O câncer de mama em transexuais é um tema que abre portas para a conscientização. Além disso, acende um alerta para a importância de prevenir a doença. Segundo uma pesquisa realizada em 2019 pela University Medical Center, em Amsterdã, mulheres trans têm 47 vezes mais probabilidade de desenvolver câncer de mama do que os homens cisgênero – aqueles que se identificam com o gênero correspondendente ao sexo biológico.
De acordo com a Dra. Maria Julia Calas, médica e Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o número de casos de câncer de mama em transexuais é alto por conta dos processos de hormonização para a readequação de gênero.
“As diretrizes da Professional Association for Transgender Health sugerem que o estrogênio pode contribuir para um aumento no risco de desenvolver câncer de mama, assim como o uso da testosterona”, afirma a especialista. No entanto, isso ainda não é um consenso na comunidade científica.
Preconceito atrapalha a prevenção e o diagnóstico do câncer de mama
Por conta do alto risco, a população trans também deve fazer parte das campanhas de prevenção adotadas durante o Outubro Rosa. Isso porque todos os cuidados para identificar possíveis tumores são indispensáveis, já que o câncer de mama em transexuais também pode ser fatal. O grande desafio, porém, é que a falta de informação e o preconceito costumam atrapalhar o diagnóstico precoce da doença e interferir negativamente no tratamento.
“Essa população é carente de estudos satisfatórios e de significância estatística no que se refere tanto à incidência de câncer de mama quanto às possíveis formas de rastreio. Além disso, as informações de base populacional sobre até que ponto os transexuais realizam exames de mamografia são limitadas. Isso acaba contribuindo para o aumento do risco”, explica a médica.
“Entre outubro de 2020 e setembro de 2021, 125 travestis e homens e mulheres trans foram assassinados no Brasil, de acordo com o projeto Transrespect versus Transphobia Worldwide (TvT), da ONG Transgender Europe (TGEU). É sob essa realidade que eles vivem, o que certamente impacta na sua busca pela saúde preventiva”, alerta Maria Júlia. O mesmo projeto aponta que a cada 10 assassinatos de pessoas trans no mundo, quatro ocorreram no Brasil.
Prevenção
Segundo pesquisa realizada em 2021 pela Faculdade de Medicina de Botucatu, cerca de 2% da população adulta brasileira são pessoas transgênero e não binárias. Isto é, se identificam com um gênero diferente daquele que lhes foi atribuído ao nascer ou não se percebem como pertencentes exclusivamente ao gênero feminino ou masculino.
Para essa população, a maneira de enfrentar os riscos do câncer de mama não muda. Em todo caso, a prevenção é a melhor saída. Por isso, o ideal é realizar consultas e exames médicos periodicamente, para rastrear um possível tumor antes que ele provoque danos irreversíveis. Além disso, é importante manter hábitos saudáveis e adotar uma alimentação balanceada.