A lista de riscos que o cigarro oferece à saúde parece não ter fim. Além disso, ele tem um cheiro marcante e uma fumaça que incomoda, mas mesmo assim ainda existe muita gente que fuma e não consegue parar. Não é à toa que no último dia de maio é celebrado o 'Dia Mundial sem Tabaco', criado pela Organização Mundial da Saúde OMS.
Segundo o Dr. Rene Penna Chaves Neto, pneumologista a fumaça atinge as vias aéreas mais inferiores, também provoca paralisação dos pequenos cílios presentes nas células epiteliais da mucosa e causa uma reação inflamatória que pode resultar num enfisema pulmonar e bronquite crônica, e principalmente câncer no pulmão”, explica.
“O cigarro não se resume apenas à possíveis problemas nas vias aéreas, doenças cardiocirculatórias são de risco para os fumantes, além do AVC (Acidente Vascular Cerebral). O câncer é comum em diversas regiões do corpo humano, como sistemas respiratórios, digestório e urinário, porém, pode ocorrer em qualquer outro”.
Mesmo que as pessoas saibam de todos os riscos causados pelo cigarro, ainda assim não conseguem deixar o vício de lado, uma vez que as substâncias químicas presentes estão relacionadas à dependência pela nicotina. “Sem perceber ela domina a mente e leva o indivíduo a querer sempre mais e com bastante frequência”.
O médico ressalta ainda que quando uma pessoa resolve para de fumar não é recomendado depositar a abstinência em outro situação isolada, pois há chances de não conseguir manter a opinião a diante.
Há um tratamento multidisciplinar entre médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas para ajudar a deixar o vício pelo cigarro. Como medida de apoio, existem algumas substâncias que agem como inibidores da vontade de fumar e auxiliam no tratamento antitabagismo com o objetivo de bloquear os neuroreceptores da nicotina e para diminuir a sensação prazerosa e também adesivos de liberação lenta de nicotina para combater as síndrome de abstinência.
Existe alguma orientação para a pessoa que não consegue parar de fumar seguir e diminuir os impactos do tabaco
Não há como diminuir os impactos do tabaco se não cessar o tabagismo. Como dito acima, quanto menos tabagismo, menores as probabilidades de doença, mas não podemos quantificar isso. As pessoas com dificuldade de cessação de tabagismo devem procurar serviços e programas de cessação de tabagismo multidisciplinares, inclusive ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
É verdade que se a pessoa para de fumar, os efeitos no pulmão começam a regredir Sim. Após a cessação da exposição aos fatores irritantes e nocivos do tabagismo, há uma diminuição do processo inflamatório, mas depende do grau de acometimento desenvolvido durante o período de tabagismo ativo.
No início, alguns indivíduos relatam até uma piora do quadro de expectoração, porém isso pode ser traduzido como um retorno das funções de depuração das secreções pelas células ciliadas da mucosa das vias aéreas, demonstrando a regressão das alterações pulmonares. Quando o tabagismo determina lesões mais acentuadas e crônicas, os sintomas tendem a permanecer, mesmo após a cessação.
Considera uma pessoa como ex-fumante quando o prazo é superior a um ano e somente após10 anos sem fumar, as probabilidades de adquirir doenças tabaco relacionadas aproximam-se novamente aos não fumantes, exceto naqueles que desenvolveram alterações graves e crônicas. Portanto, quanto mais precocemente conseguir a cessação, melhores suas chances.
O cigarro é o principal fator de câncer no pulmão
Sem dúvida, é o principal, mas não é exclusivo. Inúmeras outras substâncias químicas têm poder carcinogênico e exposições à elas estão por toda parte, desde aos índices de poluição ambiental, como produtos e matérias-primas utilizadas pelas indústrias.
Existe algo que determine que um fumante terá ou não câncer no pulmão
Avaliar geneticamente a sequência de DNA e quantificar riscos de carcinogênese em linhagens familiares já existe, porém está longe de nossa realidade de prática clínica, ficando resumida a centros de pesquisas.
Mas não pode esquecer que estamos lidando com probabilidades e existem pessoas que nunca fumaram e desenvolveram câncer, bem como o oposto também é realidade, pessoas fumantes que não desenvolveram. Trata de uma aposta em que o prêmio é a qualidade de vida e a longevidade.
Que tipo de alerta o senhor gostaria de dar à população neste dia
Atualmente, as informações estão à disposição e de fácil acesso à população, não cabendo mais a desculpa da desinformação para continuar fumando. Os indivíduos que o fazem têm o conhecimento e o fazem por opção ou incapacidade individual da cessação e devem procurar ajuda profissional. "Hoje o tabagismo é definido como uma das principais causas evitáveis de morbidades", finaliza o pneumologista.
Consultoria: Dr.Rene Penna Chaves Neto, pneumologista e coordenador do Departamento Científico da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC).