Tremores involuntários, rigidez muscular e lentidão nos movimentos fazem parte do dia a dia de pacientes com Parkinson. A condição atinge aproximadamente 4 milhões de pessoas no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Só no Brasil, há 200 mil pessoas que sofrem com a enfermidade.
O Parkinson não tem uma cura definitiva, mas a medicina já tem uma solução para controlar os sintomas motores dessa doença. Trata-se do implante de pequenos eletrodos em estruturas específicas do cérebro. Esse é um procedimento minimamente invasivo e com o paciente acordado que pode surtir efeitos de curto e longo prazo, mesmo após 15 anos do dispositivo implantado. As informações fazem parte de um estudo publicado pela revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia.
Além de conter os tremores, uma pesquisa publicada na revista Frontiers in Neurology indicou que o implante reduz em 51% o uso de medicamentos para controle de dopamina. O neurotransmissor que está em escassez na massa cinzenta de quem sofre da doença de Parkinson.
Na falta da dopamina, o corpo demora para ouvir ordens e para se mover. Além disso, os comandos são descoordenados. “O melhor resultado é a combinação da cirurgia com a dose exata da medicação. A doença não é curada, mas a soma dos dois fatores eleva a longevidade e traz mais qualidade de vida para os pacientes”, explica o neurocirurgião dos hospitais Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru, Alexandre Novicki Francisco.
Vale lembrar que há mais de duas décadas, pacientes de hospitais de Curitiba (PR) contam com essa opção de tratamento. No Brasil, o tratamento recebe o nome de Estimulação Cerebral Profunda (ECP), também conhecido como marca-passo cerebral.
Impacto do tratamento
Mais de vinte anos se passaram desde que o padre Valnei Pedro Reghelin começou a perceber os primeiros sinais de tremores nas mãos. Ele é um dos 200 mil brasileiros que vivem com Parkinson e está entre os 2% de pacientes que receberam o diagnóstico antes dos 40 anos, de acordo com dados da OMS.
A descoberta da doença chegou enquanto realizava uma missão pastoral na China e, logo em seguida, o agravamento dos sintomas levou o sacerdote a buscar tratamentos no Brasil. Em março de 2015, Valnei iniciou o seu processo de tratamento.
“Durante as consultas, os médicos explicavam que a doença poderia me tirar os movimentos das pernas a ponto de depender de uma cadeira de rodas. Por isso, não exitei em realizar o procedimento o mais rápido possível e, hoje, afirmo que essa cirurgia trouxe uma mudança muito grande na minha vida”, conta o paciente.
“É inesquecível o momento exato em que o eletrodo começa a funcionar. Ainda na sala de cirurgia, o médico testa o nível de energia e, no mesmo instante, tudo fica calmo, porque os tremores simplesmente param”, afirma.
Após doze meses do eletrodo implantado no cérebro, o padre Valnei já pôde embarcar de volta para a China. Hoje, com 57 anos, ele leva uma vida muito próxima do normal, com acompanhamento de outros especialistas e livre de fármacos, buscando conscientizar sobre a importância do tratamento precoce do Parkinson.
“O que quero deixar para o mundo é que não podemos desistir nem deixar que essa doença nos defina. Eu não sou o Parkinson, apenas tenho e convivo com a doença”, reflete o padre.