Apesar de comum, o mau hálito crônico é pouco discutido. Atualmente, 30% da população brasileira – isto é, cerca de 50 milhões de pessoas – sofre com a condição, nomeada cientificamente como halitose. Os dados são de pesquisas da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) e da Associação Brasileira de Halitose (ABHA).
De onde surge o mau hálito?
A halitose faz com que o indivíduo exale um odor desagradável pela boca, persistente mesmo após escovar os dentes, passar fio dental e utilizar enxaguante bucal, explica a Profa. Dra. Caroline Morini Calil (CRO 80476), periodontista e doutora em fisiologia oral.
A condição pode ter origem sistêmica, relacionada a doenças crônicas, terapias medicamentosas associadas e/ou ao estado nutricional – fatores esses que correspondem de 5% a 10% das causas de mau hálito.
“No entanto, a origem bucal da halitose é mais comum, causada por compostos sulfurados voláteis (CSVs), que contêm enxofre em sua composição e que são produzidos por bactérias presentes na boca e no trato respiratório superior”, afirma a especialista.
O que o mau hálito pode indicar?
Segundo a periodontista, a halitose em si não é uma doença, mas pode ser um indicativo de problemas de saúde ou de alterações fisiológicas. Sendo assim, é um importante sinal de que algo no organismo está em desequilíbrio.
Por isso, são necessários exames específicos, realizados com profissionais como os dentistas especializados em halitose ou em periodontia, e médicos otorrinolaringologistas, por exemplo, para diagnosticar a patologia de forma adequada.
Conforme a profissional, há uma série de possíveis causas para o mau hálito. Dentre os principais, ela destaca:
- Inflamação gengival;
- Restaurações quebradas;
- Cáries profundas;
- Placas bacterianas retidas nas amígdalas;
- Baixa produção de saliva (hipossalivação);
- Problemas em vias aéreas (adenóides, rinites, sinusites);
- Diabetes não controlado;
- Hábitos alimentares inadequados (longos períodos de jejum ou dietas exclusivamente proteicas por mais de 3 meses);
- Tabagismo;
- Consumo de bebidas alcoólicas;
- Uso excessivo de medicações;
- Utilização de soluções para bochecho com formulação não confiável;
- Conflitos emocionais, como o estresse.
A halitose tem mesmo origem no estômago?
“Sendo 90% das causas possíveis de halitose originárias na cavidade bucal e de 5% a 10% desenvolvidas devido a fatores sistêmicos, é válido salientar que condições relacionadas ao estômago pouco interferem no hálito. Essa é apenas uma crença popular com pouca ou nenhuma evidência científica ou clínica”, esclarece a periodontista.
Segundo ela, essa crença faz com que o portador da condição demore para consultar um profissional especializado que o direcione ao tratamento eficaz. Dessa forma, a condição indesejada pode se prolongar por muito tempo.
Como tratar o mau hálito?
Por conta da proliferação de bactérias e microrganismos capazes de provocar halitose, é importante manter uma rotina de saúde bucal capaz de atacá-los por todos os ângulos, destaca Caroline.
“Embora essenciais, a escova e o fio dental não alcançam alguns locais em que as bactérias crescem, como, por exemplo, a região posterior da língua. Dessa forma o uso do antisséptico é um aliado, pois possibilita higienizar 100% da cavidade bucal”, aconselha a especialista.
Segundo a profissional, para tratar halitose, não basta fazer o uso de qualquer enxaguante bucal. Isso porque é necessário utilizar os que contenham em sua formulação um princípio ativo antibacteriano, como a clorexidina, o cloreto de cetilpiridínio e determinados óleos essenciais, como de eucaliptol, timol, mentol e salicilato de metila.
A presença dos óleos essenciais na formulação de antissépticos bucais é de extrema importância, já que são componentes que combatem germes e permitem ações profundas na placa bacteriana para eliminação dos microrganismos de diferentes tipos, como os produtores de compostos sulfurosos que causam o mau hálito.
Além disso, o enxágue bucal com um antisséptico de qualidade e no tempo adequado ataca a superfície celular das bactérias, interferindo no seu crescimento. Portanto, um simples bochecho de 30 segundos duas vezes ao dia, somado à escovação correta e ao uso de fio dental, proporciona a higienização completa e saudável da cavidade bucal.
“É importante lembrar que o enxaguatório usado com fins de controle da halitose deve alcançar também a língua para que os microrganismos aderidos à mucosa possam ser atingidos”, acrescenta Caroline.
Tratamento não ocorre do dia para a noite
A profissional destaca ainda que é de extrema importância que as boas práticas de higiene bucal sejam mantidas com frequência e a longo prazo, já que não é possível tratar a halitose de forma descontínua e irregular.
Portanto, considerando que a manutenção de um ambiente bucal saudável reflete em melhores condições de saúde geral, fica evidente a importância tanto das consultas preventivas que incluem a limpeza profissional de dentes, gengivas e toda a cavidade bucal, bem como do cuidado diário que compreende a escovação, o fio dental e o enxaguatório.