Quem está no processo de perder peso sabe que o apetite é uma das principais chaves para o emagrecimento. Por isso, muitas pessoas podem recorrer a medicamentos ou dietas da moda para diminuir a fome. No entanto, o segredo, muitas vezes, está nos hormônios do nosso corpo.
A Dra. Tassiane Alvarenga, médica endocrinologista e metabologista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), explica que são os hormônios que regulam o apetite e o metabolismo que controlam a fome.
Seja a curto ou longo prazo, esses hormônios agem predominantemente numa região do hipotálamo conhecida como núcleo arqueado, o centro no qual reside o controle-mestre dos sistemas regulatórios.
Para o núcleo arqueado convergem dois tipos de neurônios que exercem ações opostas: estimulação e inibição do apetite. “A vontade de comer que sentimos resulta de um equilíbrio ajustado entre esses circuitos antagônicos regulados por hormônios”, explica a médica.
Hormônios do apetite: mitos e verdades
A médica esclarece alguns mitos e verdades sobre os hormônios da fome e do apetite. Confira:
1. Comemos apenas quando estamos com fome
MITO. De acordo com a especialista, a fome é uma sensação fisiológica que nos faz procurar e ingerir alimento para satisfazer as necessidades diárias de nutrientes. O ato de ingerir alimentos é resultado de uma série de estímulos (ou sinais). Entre eles está a diminuição da quantidade de nutrientes como glicose, aminoácidos e gordura no organismo, ou mesmo a diminuição da temperatura interna.
Essas mudanças estimulam a produção de um hormônio no estômago chamado grelina, que chega até o cérebro e ativa toda uma cascata endocrinológica que motiva o apetite.
“Tudo começa com aquela sensação de estômago vazio, a queda da glicose no sangue e a queda da temperatura corporal, estímulos para a produção de grelina. Este é o único hormônio periférico com função de aumento do apetite. Por isso, é muito importante para o controle do apetite — produzido no estômago e intestino delgado, com um pouco dele sendo liberado no pâncreas e no cérebro. Ele se chama ‘hormônio da fome’ devido ao seu papel no controle do apetite (uma das suas funções)”, explica Tatiane.
2. Temos apenas um hormônio produzido no nosso trato intestinal que gera a fome. Todos os outros geram saciedade.
VERDADE. Um exemplo é o GLP-1, produzido pelas células L do íleo e cólon diante da chegada de alimentos nessa porção do intestino. Ele exerce diversas funções como redução do esvaziamento gástrico e ativação das áreas do cérebro relacionadas à saciedade, além de diminuir o paladar para alimentos de alta densidade calórica.
“A meia‑vida do GLP‑1 endógeno é de apenas 5 minutos. Existem no mercado atualmente os análogos de GLP-1 que tentam imitar a ação deste hormônio promovendo saciedade, reduzindo gula, e reduzindo o apetite por coisas gostosas”, conta a especialista.
Já o Peptídeo YY (PYY) é produzido pelas células L intestinais, presentes principalmente no cólon e reto, a partir da chegada de alimentos gordurosos nessa porção do intestino. De forma semelhante ao GLP-1, o PYY inibe vias da fome e estimula vias da saciedade.
Por fim, há também a Colecistocinina (CCK), hormônio produzido também pelas células L do trato gastrintestinal que diante da chegada de gordura e proteína nessa porção do intestino estimula a secreção de enzimas digestivas pancreáticas e a secreção biliar, inibindo o esvaziamento gástrico e o apetite diretamente, explica a endocrinologista.
3. Pacientes obesos tem muita Leptina (hormônio da saciedade), mas ela não funciona
Verdade. A leptina é um dos hormônios diretamente ligados à gordura corporal e à obesidade. É liberada pelas células de gordura e envia sinais para o hipotálamo, ajudando a regular e alterar a ingestão de alimentos em longo prazo e o gasto de energia. Se o indivíduo engorda, os níveis de leptina aumentarão.
Ela pode ser chamada de hormônio da saciedade, pois ajuda a inibir a fome e a regular o equilíbrio energético. Assim, o corpo não desencadeia respostas de apetite quando não precisa de energia. No entanto, quando os níveis do hormônio caem (acontece quando um indivíduo perde peso, por exemplo), os níveis mais baixos podem desencadear enormes aumentos de apetite e compulsão. Isso, por sua vez, pode tornar a perda e manutenção de peso mais difícil.
“Quando o corpo está funcionando corretamente, as células com excesso de gordura produzirão leptina, o que estimulará o hipotálamo a diminuir o apetite. Infelizmente, quando alguém é obeso, apesar de ter muita leptina no sangue, pela inflamação da obesidade, esta leptina não consegue agir direito, uma condição conhecida como resistência à leptina: ou seja, a via da saciedade não funciona”, explica Tatiana.
4. Comer vicia
Parcialmente verdade. Todos possuem outro tipo de apetite conhecido como apetite hedônico, que se relaciona ao prazer de comer. Isso porque ele ativa o sistema de recompensa cerebral (fome hedônica) relacionado ao prazer, e faz o indivíduo comer sem fome.
Neurocientistas concluíram que a sensação de felicidade tem origem no cérebro, mais especificamente nos centros do prazer. Trata-se de uma complexa rede de neurônios que se ativa ao realizar atividades que trazem felicidade. Portanto, comer pode viciar sim.