Junho é o Mês Mundial de Conscientização da Infertilidade, problema que atinge aproximadamente 15% da população de todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com o último relatório divulgado pela organização, uma em cada seis pessoas tem ou terá dificuldade para ter filhos naturalmente.
Quando suspeitar da dificuldade para engravidar?
Considera-se infertilidade quando um casal deseja obter gravidez e não consegue após um ano de tentativas por relações sexuais sem uso de nenhum método de anticoncepção. A recomendação é que mulheres entre 35 e 37 anos após seis meses de tentativas já comecem a investigar as causas da dificuldade por meio de exames específicos ou imediatamente se elas estiverem com 38 anos ou mais.
Existe ainda a chamada infertilidade social. Ela é relativa a casais homoafetivos que desejam construir uma família, além das chamadas produções independentes, nas quais há apenas o homem ou a mulher.
De forma similar à OMS, a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (American Society for Reproductive Medicine – ASRM) estima que a infertilidade atinge entre 10% e 20% dos casais em idade reprodutiva, independentemente de suas origens étnicas ou sociais.
Homens e mulheres são responsáveis, cada um, por 50% dos casos de infertilidade. Portanto, a investigação da infertilidade deve ser feita por meio de exames específicos do casal.
Infertilidade masculina
Nos homens, as principais causas de infertilidade incluem:
- Varicocele;
- Criptorquidia na infância;
- Diminuição e baixa mobilidade de espermatozoides;
- Ausência da produção de espermatozoides;
- Vasectomia prévia;
- Dificuldade na relação sexual;
- Infecções sexualmente transmissíveis (ISTs);
- Trabalho com produtos químicos, entre outros.
Segundo o ginecologista especialista em reprodução humana Dr. Roberto de Azevedo Antunes, diretor médico da FERTIPRAXIS Centro de Reprodução Humana e diretor da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), é importante que os homens façam o exame de espermograma. Entre outras informações, ele consegue avaliar a quantidade de espermatozoides presentes, o tipo de motilidade ou se existem fatores inflamatórios, por exemplo.
Além disso, há também o teste de fragmentação de DNA de espermatozoides, complementar ao espermograma. Ele serve para casos de infertilidade sem uma causa aparente e perdas, ou falhas de implantação, de repetição em casos de reprodução assistida.
O exame consegue avaliar o dano oxidativo ao qual os espermatozoides estão sendo submetidos. As causas podem ser consumo excessivo de álcool, cafeína, alimentação desregrada, obesidade e outros fatores, explica Roberto.
De acordo com os especialistas, a qualidade do sêmen diminui com a idade, principalmente após os 45 anos.
“No imaginário popular, a infertilidade é, geralmente, ligada às mulheres, mas a realidade é diferente. De acordo com estudos recentes, em até 50% dos casos, esse problema tem relação com a saúde dos homens. E nem todos os espermatozoides conseguem fecundar o óvulo devido a alterações de forma e motilidade”, explica a ginecologista e especialista em reprodução humana Dra. Maria do Carmo Borges de Souza, também diretora médica da FERTIPRAXIS Centro de Reprodução Humana e membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Rede Latino-Americana de Reprodução Assistida (REDLARA).
Infertilidade feminina
No caso das mulheres, o ginecologista especialista em reprodução humana Dr. Marcelo Marinho de Souza, também diretor médico da FERTIPRAXIS Centro de Reprodução Humana e mestre em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), enumera os principais fatores correlacionados:
- Distúrbios hormonais e outras doenças ginecológicas como miomas ou aderências pélvicas;
- Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP);
- Endometriose;
- Passado de infecções da região pélvica;
- Idade;
- Estilo de vida e fatores ambientais.
“Há uma série de causas para a infertilidade feminina. Entre elas, destaca-se o fator ovariano com as suas disfunções ovulatórias. Nesse grupo, um importante elemento é a síndrome dos ovários policísticos. Sem esquecer de considerar a idade da paciente e fazer uma precisa avaliação da reserva folicular ovariana, especialmente naquelas pacientes com uma idade um pouco mais avançada, ou seja, acima de 35 anos”, explica Marcelo.
O médico complementa que, ao longo da vida, as mulheres podem passar por tratamentos agressivos do câncer com o uso de rádio ou quimioterapia, assim como a exposição crônica e prolongada a agentes químicos tóxicos presentes nos meios industriais, agrícolas e domésticos.
Tratamentos para engravidar
Conforme os especialistas, os tratamentos de reprodução humana assistida envolvem:
Relação sexual programada
O coito programado é quando o casal planeja ter relações sexuais durante o período fértil da mulher. Esse método é simples, mas são necessários exames a fim de se avaliar a função reprodutiva como um todo.
Nos homens, um exame de abordagem inicial importante é o espermograma, e nas mulheres, a histerossalpingografia, para avaliar a cavidade uterina e permeabilidade das trompas, a ultrassonografia pélvica e o painel hormonal reprodutivo da mulher.
É importante lembrar que esse tipo de tratamento é útil também para mulheres que apresentam dificuldades de ovulação, como o caso daquelas que possuem Síndrome dos Ovários Policísticos, mas nessas situações deve ocorrer uma indução medicamentosa da ovulação.
Inseminação artificial
Esta é uma técnica de reprodução medicamente assistida utilizada quando os parâmetros do espermograma encontram-se com alterações leves a moderadas ou quando a relação sexual programada não dá certo.
O procedimento é realizado no período fértil da mulher e consiste em injetar o sêmen devidamente preparado e melhorado em laboratório, diretamente no útero da paciente para que, então, ocorra a fecundação do óvulo e a geração do embrião. As taxas de sucesso da inseminação artificial dependem da qualidade das trompas e da quantidade de espermatozoides.
Fertilização in vitro (FIV) e Injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI)
Este é um método de reprodução humana assistida de alta complexidade. O encontro dos óvulos e espermatozoides, ou seja, a fecundação em vez de acontecer na trompa da mulher é feita no laboratório. Por ser “fora do corpo”, recebe a denominação “in vitro”.
O tratamento envolve o estímulo hormonal de um processo ovulatório múltiplo, acompanhamento de ultrassonografias transvaginais e a coleta dos óvulos sob sedação, em local seguro e devidamente equipado.
Nesse mesmo dia, o homem colhe o sêmen ou a mostra de espermatozoides já pode estar disponível no laboratório. A partir desse momento os espermatozóides passam por um processo de seleção a fim de se definirem os melhores.
A fertilização dos óvulos em si pode ocorrer de duas maneiras, através da técnica clássica, na qual óvulos e espermatozoides são colocados em um mesmo compartimento e a fecundação ocorre de forma espontânea (FIV clássica) ou, então, pela técnica de injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) nos óvulos, a qual consiste literalmente na injeção de um único espermatozoide pré-selecionado dentro de um óvulo.
A técnica de ICSI, embora originalmente utilizada apenas para os casos de fator masculino grave, atualmente é disseminada e utilizada prioritariamente na maior parte dos serviços por entregar melhores taxas de fertilização dos óvulos. “O tratamento a ser indicado deve ser individualizado e dependerá da saúde e histórico do casal”, finaliza o Dr. Marcelo Marinho de Souza.