Conhecida popularmente como “prisão de ventre”, a constipação pode atingir tanto adultos quanto crianças. Os pequenos, no entanto, recebem o diagnóstico a partir dos 4 anos de idade.
A principal forma de identificar o problema nas crianças é através do método de Roma IV. A técnica é adotada mundialmente e se baseia em seis perguntas. Caso duas respostas sejam positivas, há um indicativo de constipação.
Critérios de Roma IV
As perguntas que descrevem os critérios de Roma IV são:
- Há duas ou menos evacuações por semana?
- Ocorre pelo menos um episódio de incontinência fecal na semana?
- Há histórico de postura retentiva ou retenção fecal voluntária excessiva?
- Há presença de extensa massa fecal no canal retal?
- A criança tem histórico de fezes calibrosas, que podem obstruir o vaso sanitário?
- As defecações são dolorosas?
Caso somente uma pergunta seja positiva, é necessário, então, um toque retal para confirmação. Vale destacar que essa abordagem, embora eficaz na confirmação, não oferece uma avaliação do grau de constipação.
Nova forma de identificar o problema
Para superar essa limitação, um estudo desenvolvido na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, publicado no Journal of Pediatric Urology, adaptou e validou para uso pediátrico o Cleveland Constipation Score (CCS), originalmente desenvolvido para avaliar a constipação em adultos. O CCS é uma ferramenta abrangente que proporciona um diagnóstico mais preciso e elimina a necessidade de toque retal.
O estudo, publicado e validado para a população pediátrica, oferece uma alternativa inovadora, permitindo uma avaliação mais detalhada da constipação em crianças a partir de 4 ou 5 anos. Ao quantificar a intensidade da constipação, o CCS promete ser um instrumento valioso no diagnóstico e acompanhamento dessa condição com maior precisão.
“Solicitamos a autorização ao autor do CCS para que pudéssemos adaptar esta ferramenta para a população pediátrica e ele concordou”, conta o urologista pediátrico Dr. Ubirajara Barroso. O médico foi orientador da pesquisa, fruto do trabalho de doutorado da coloproctologista Glícia Abreu.
Os pesquisadores estão em negociação com uma universidade americana para validar o score no idioma inglês, o que pode torná-lo o novo padrão mundial. “Essa iniciativa não apenas ampliará o alcance da ferramenta, mas também contribuirá para sua aceitação global, representando um avanço significativo na abordagem diagnóstica da constipação em crianças”, afirma.
A constipação em crianças
Segundo a coloproctologista Glícia Abreu, a criança começa a ter controle da defecação em torno dos 3 anos. “O tratamento da constipação pode ser complexo”, diz a médica. Além disso, cerca de 40% das crianças constipadas recidivam após um ano de tratamento para a constipação.
“Também já se observou que 25% das crianças constipadas se tornam adultos constipados e muitas vezes de difícil tratamento. Além disso, os responsáveis muitas vezes suspendem o uso necessário de laxantes por receio de o ‘intestino se acostumar’!”, alerta a médica.
O Dr. Ubirajara Barroso Jr. destaca que cerca de 50% das crianças com incontinência urinária também têm constipação. Por isso, é preciso tratar os dois problemas, uma vez que um interfere no outro.
A eletroneuroestimulação parassacral, que é utilizada pela equipe de Barroso Jr. desde 2001 no tratamento da incontinência urinária infantil, também tem tido eficácia no tratamento da prisão de ventre.
“Esse é o primeiro recurso que trata as duas condições juntas, pois a terapêutica para disfunção vesicointestinal atualmente engloba duas modalidades de tratamento, uma para cada problema”, explica o Dr. Ubirajara.
“A literatura também salienta que o tratamento da constipação é ponto chave para o tratamento dos sintomas urinários”, conclui a Dra. Glícia.