Além de todos os malefícios que a obesidade pode acarretar à saúde, os cientistas agora descobriram mais um. De acordo com uma pesquisa publicada recentemente na revista Science, a dieta rica em gordura desregula o sistema imunológico dos olhos. Mesmo após mudança na alimentação e perda de peso, é maior a chance de desenvolver degeneração macular relacionada à idade (DMRI), uma das maiores causas globais de cegueira definitiva. A doença afeta a porção central da retina responsável pela visão de detalhes e atinge 196 milhões de pessoas no mundo. As pessoas acometidas pela obesidade são as que sofrem mais riscos.
O oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier de Campinas, explica que a DMRI é uma doença neuro inflamatória e pode ser de dois tipos:
Seca: caracterizada pela formação na retina de drusas ou depósitos de gordura que levam à morte das células; ou
Úmida: caracterizada pela formação de neovasos na retina que podem vazar um líquido ou sangue na retina que torna a visão nebulosa.
“Outros fatores de risco relacionados ao desenvolvimento da degeneração macular são o hábito de fumar, exposição dos olhos ao sol sem proteção e hipertensão arterial”, pontua.
Outros riscos da obesidade
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece o sobrepeso entre 25 e 29,9 de IMC (Índice de Massa Corpórea). Já a obesidade equivale a 30 ou mais de IMC. “Quando estamos acima do peso também temos dificuldade de combater os radicais livres que fazem parte do processo de envelhecimento. Por isso, temos mais chance de desenvolver catarata, doença que torna o cristalino do olho opaco. Essa, aliás, é a maior causa tratável de perda da visão e tem como único tratamento a cirurgia. Ela consiste no implante de uma lente intraocular que substitui o cristalino opaco”, explica o médico.
Leôncio afirma que quanto mais ganhamos peso, maior é o risco de contrair diabetes tipo 2 – uma resistência das células à insulina produzida pelo pâncreas que faz a glicemia acumular na corrente sanguínea. Para se ter ideia, o IMC acima de 30 aumenta em 10 vezes a chance de contrair diabetes tipo 2. Já o risco entre pessoas com IMC superior a 35 é 80 vezes maior, informa o especialista.
O oftalmologista afirma que após 10 anos de convivência com o diabetes, a maioria das pessoas desenvolve retinopatia diabética – doença caracterizada pela formação de neovasos que dificultam a nutrição da retina. Por outro lado, a boa notícia é que é possível destruir precocemente esses neovasos com aplicação de laser. Além disso, o acompanhamento médico com aplicação de injeção controla a formação desses vasos, permitindo manter a visão em 90% dos casos.
Prevenção
O oftalmologista alerta que muitas doenças oculares surgem depois dos 40 anos e podem passar despercebidas nos estágios iniciais. Por isso, a recomendação é consultar um oftalmologista a cada 2 anos até os 59 anos e anualmente a partir dos 60 anos. “É muito comum pacientes descobrirem que têm diabetes ou hipertensão arterial durante o exame de fundo do olho que faz o mapeamento da retina e o diagnóstico de alterações nos vasos da retina. Independente do peso, os exames periódicos são indicados para todos”, conclui.