A apresentadora Giovanna Ewbank chorou durante seu podcast “Quem Pod, Pod”, que compartilha com a atriz Fernanda Paes Leme, ao contar sobre a descoberta de uma síndrome em Bless, seu filho. O pequeno, de 8 anos, foi diagnosticado com Transtorno do Processamento Sensorial (TPS), que inclui sintomas como audição, tato e faro hipersensíveis ou hiposensíveis. Os sinais da condição surgem ainda na infância.
“Ele ouve mais do que nós todos, sente mais o tato que nós todos, sente mais cheiro”, contou Ewbank. A apresentadora afirmou que atitudes como não se sentir confortável em pisar na grama, se incomodar com o cheiro de cebolas e ouvir moscas de maneira mais alta mesmo distantes inicialmente a fizeram acreditar que se tratava de “frescura”. Ela também achou que pudesse ser algum grau de autismo, mas, na verdade, Bless sofre de um transtorno sensorial.
O que é o Transtorno do Processamento Sensorial
De acordo com a psicóloga cognitivo comportamental, Rejane Sbrissa, o TPS é uma condição neurofisiológica em que o cérebro e o sistema nervoso tem dificuldade em entender e processar os estímulos do ambiente e os sentidos. “A entrada sensorial do ambiente ou do corpo é mal detectada ou mal interpretada, assim a criança tem dificuldade em detectar o calor ou o frio, dores, fome, cansaço, sons, cheiros ,luzes, complicando simples tarefas do dia a dia”, explica. Ela aponta que não há uma causa exata, mas especialistas acreditam que o transtorno sensorial tem um forte componente genético.
Dentro do transtorno sensorial há casos de hipo e de hipersensibilidade. “Na hipossensibilidade a criança precisa de maior esforço para sentir os estímulos. Então muitas vezes são bem agitadas, bagunceiras, barulhentas, mordem objetos e cheiram tudo que encontram para sentir os estímulos. Já na hipersensibilidade ela percebe os estímulos com muita facilidade, até mesmo se sentindo incomodada com um tecido de suas roupas, sendo necessário ver opções sem costura, tirar etiquetas, ver tecidos que a criança suporta melhor. As luzes e as cores ficam mais brilhantes, exacerbadas, os sons mais intensos e os odores mais fortes”, relata a psicóloga.
Essas sensações táteis profundas acabam atrapalhando a rotina da criança, que pode se incomodar muito com barulhos, certos alimentos, texturas e serem tocados. “Estas crianças também têm dificuldade com mudanças de ambientes, de casa, e para passar de uma atividade para outra”, acrescenta a especialista.
Diagnóstico
Para diagnosticar o transtorno sensorial o médico vai conversar com os pais para saber sobre as dificuldades e medos da criança. Neste momento, é importante observar seus comportamentos e reclamações. “O pediatra vai averiguar as sensibilidades, dor, toque, cheiro, sabores, barulhos”, detalha Rejane. A psicóloga alerta que quem é diagnosticado com TPS acaba sofrendo com problemas emocionais e sociais, que impactam no aprendizado da criança. Ela pode ter dificuldades em se relacionar e fazer parte de um grupo. Há casos, aliás, em que o paciente começa a sofrer com depressão, agressividade e ansiedade.
“Essas crianças são tão inteligentes como qualquer outra, somente seus cérebros são conectados diferentemente. Por isso, eles precisam ser ensinados a se adaptarem ao modo que processam as informações. A terapia ocupacional e a cognitiva têm resultados muito bons, pois se utilizam de técnicas de abordagem sensorial e de integração através de atividades e brincadeiras,cuidam também da depressão e ansiedade quando existem”, afirma.
Ela destaca a importância do diagnóstico precoce para que a criança aprenda a realizar suas atividades normalmente, como brincar com amigos, comer e também dormir. “Os pais devem observar, ouvir os filhos, reparar em suas sensibilidades, irritações ,reclamações e comportamentos”, alerta. O transtorno sensorial não tem cura, mas existem tratamentos capazes de amenizar as sensibilidades ainda na infância. Isso possibilita um crescimento natural e saudável.
A diferença entre o transtorno sensorial e outras síndromes
Rejane ressalta que não se pode associar o TPS a outras síndromes, já que são condições distintas. “Cada uma tem suas características, que em muitos casos tem sintomas em comum, mas também tem os que as diferenciam. Portanto, não são síndromes conexas”, afirma. No caso do autismo, por exemplo, é comum relacionar as duas condições. No entanto, estudos recentes mostram que nem todo paciente com Transtorno do Espectro Autista (TEA) sofre com transtorno sensorial.
“Normalmente as pessoas com TEA possuem maior sensibilidade, e esta pode estar ligada ou não a disfunção sensorial. Portanto deve-se investigar. As crianças diagnosticadas com TDAH, também podem ou não serem acometidas por TPS. Também deve-se investigar”, recomenda a psicóloga. Da mesma forma, o Transtorno de Desenvolvimento de Coordenação (TDC) e a Síndrome do X Frágil (SXF) não têm associação com o transtorno social, aponta a especialista. Mas, de qualquer maneira, é importante a realização do exame genético para diagnóstico e tratamento correto.