Quando analisamos os procedimentos de detecção e tratamento do câncer de mama no Brasil, os números são preocupantes. A cobertura da mamografia, por exemplo, tem apresentado taxas cada vez menores.
De acordo com o Panorama da Atenção ao Câncer de Mama no Sistema Único de Saúde (SUS), o Brasil registrou o menor índice de realização do exame: apenas 17% das mulheres entre 50 e 69 anos realizaram a mamografia em 2021. Em 2019, esse percentual era de 23%.
Queda na realização de mamografias
Um estudo idealizado pelo Instituto Avon e pelo Observatório de Oncologia analisou dados de rastreamento mamográfico, avaliando a taxa que mede a capacidade do SUS de atender a população feminina. Foram considerados também índices de diagnóstico e de acesso aos tratamentos no Brasil, com base no Datasus, o sistema de informática do SUS.
De acordo com a pesquisa, mais de 437 mil mulheres passaram por procedimentos quimioterápicos no país entre 2015 e 2021. No período analisado, o Distrito Federal (DF) teve a pior taxa de cobertura mamográfica (4%), seguido por Tocantins, Acre e Roraima, com 6%.
Os dados indicaram também uma deficiência de políticas públicas para a saúde das mamas durante a pandemia de Covid-19. Segundo o trabalho, a diminuição de cobertura e de produção de mamografias, que é o principal exame de rastreamento e diagnóstico de câncer de mama, resulta em avaliação tardia para a chegada da população feminina ao tratamento. Isso contribui para o fato de mais mulheres chegarem ao SUS com diagnóstico avançado e, por isso, com menores chances de cura e de qualidade de vida.
Casos de câncer de mama em jovens dobraram nos últimos anos
Conforme a cobertura mamográfica cai, os casos da doença se mantêm em alta. Cerca de 66.280 casos de câncer de mama surgem no país a cada 3 anos, como aponta o Instituto Nacional de Câncer (INCA). O subtipo é o que mais atinge as mulheres, especialmente aquelas com idade acima dos 50 anos. Mas isso tem mudado.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), houve um aumento da incidência de câncer de mama entre mulheres mais jovens, antes dos 35 anos. Nos últimos dois anos, a ocorrência de casos nessa faixa etária representou 5% do total de casos. Antes, esse total era de apenas 2%.
Alguns fatores de risco podem estar relacionados a esse aumento, como explica a médica oncológica Dra. Maria Cristina Figueroa Magalhães. “Eles têm relação com o estilo de vida das pessoas, como menor número de filhos ou pela opção de não engravidar, gestação mais tardia (após os 30 anos de idade), o sedentarismo, a obesidade e uma alimentação inadequada associados à uma rotina estressante”, esclarece.
Como estão fora do grupo de rastreamento mais frequente (a partir dos 40 anos), essas pacientes mais jovens têm mais chances de desenvolverem tumores mais agressivos. Isso significa que, quando o câncer é diagnosticado, já está em estágio mais avançado, diferentemente daqueles identificados nas mulheres que mantêm uma rotina de exames de rastreamento.
Prevenção
A principal forma de prevenir o câncer de mama é mudar o estilo de vida, adotando hábitos mais saudáveis, que afastem os fatores de risco da doença. Além disso, a realização periódica da mamografia é uma maneira de garantir o diagnóstico precoce do tumor, o que contribui para o sucesso do tratamento.
A recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia é que as mulheres acima dos 40 anos façam o exame anualmente. Essa frequência também deve ser adotada por algumas pacientes já a partir dos 25 anos, sobretudo aquelas com alto risco de desenvolver a doença.