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É possível prevenir o suicídio? Especialistas analisam

Especialistas listam transtornos que mais levam ao suicídio e mostram como prevenir mais mortes. Identificar sinais de alerta é fundamental

É possível prevenir o suicídio? Especialistas analisam
É possível prevenir o suicídio? Especialistas analisam - Foto: Shutterstock

Hoje é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (10/09), considerada a data mais importante da campanha Setembro Amarelo. Segundo a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), o evento representa um compromisso global para chamar atenção para prevenir este problema que tira mais de 700 mil vidas por ano, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Um dos alertas mais comuns e relevantes na luta contra o suicídio é o fato de esse tipo de ação decorrer, quase em 100% dos casos, de questões mentais não diagnosticadas ou não tratadas corretamente. Por isso, as informações sobre o tema se mostram ainda mais importantes.

“Mais de 90% dos casos de suicídio estão relacionados a algum transtorno mental. Então, identificar e tratar é uma saída de extrema eficácia”, afirma a Dra. Julia Trindade, psiquiatra pós-graduada em neurociências do comportamento e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

A especialista enumera abaixo situações e diagnósticos de doenças mentais que mais conduzem ao suicídio, bem como suas características e pontos de atenção. O objetivo é ajudar as pessoas a ficarem alertas umas às outras, observando comportamentos atípicos e podendo atuar ativamente na prevenção de mortes por esta razão.

Depressão

A presença de sentimentos intensos de desesperança e desamparo, acompanhados por uma visão negativa do futuro, pode ser um sinal preocupante, afirma a psiquiatra. 

“A doença também tende a gerar isolamento social, desistência de atividades sociais e prazerosas, aumento da irritabilidade, alterações significativas no padrão de sono e apetite, bem como a dificuldade em concentrar-se ou tomar decisões”, elenca Dra. Julia.

Segundo ela, a união desses fatores contribui para a vulnerabilidade que pode levar aos pensamentos suicidas.

Transtorno bipolar

“Pessoas com transtorno bipolar podem experimentar mudanças extremas de humor, incluindo episódios de depressão profunda e mania elevada. Durante os episódios de depressão, o risco de comportamento suicida pode ser elevado, especialmente se não for tratado adequadamente”, aponta Julia.

A psiquiatra estima que entre 30% e 50% dos pacientes com transtorno bipolar tentam suicídio e 20% acabam conseguindo. “Esta é uma das taxas mais altas entre os transtornos mentais”, diz.

Transtornos de ansiedade

“O transtorno de ansiedade generalizada, o transtorno do pânico e o transtorno de estresse pós-traumático podem levar a preocupações constantes, medos intensos e reações de ansiedade extrema. Quando não tratados, esses transtornos podem aumentar o risco de comportamento suicida”, alerta.

Transtornos de personalidade, como o borderline (TPB)

A psiquiatra informa que pessoas com esse transtorno também podem ter oscilações emocionais intensas, problemas de autoimagem, medo de abandono e comportamentos impulsivos.

“A Ideação e tentativas suicidas em indivíduos com TPB têm estimativas de prevalência ao longo da vida variando de 84% a 94%, e aproximadamente 5% a 10% dos indivíduos com TPB eventualmente morrem por suicídio”, aponta.

Abuso de substâncias

O abuso de álcool e drogas pode diminuir os filtros de inibição, reduzir a capacidade de tomada de decisão racional e levar a comportamentos impulsivos. Por isso, a especialista reforça que o uso excessivo dessas substâncias pode aumentar o risco de comportamento suicida, especialmente quando combinado com outros fatores de risco.

Traumas

Pessoas que enfrentam, ou enfretaram traumas significativos, como abuso físico, sexual ou emocional podem estar em maior risco de comportamento suicida, especialmente se não receberem o suporte adequado para lidar com essas experiências, considera a Dra. Julia.

Isolamento social

“A falta de conexões sociais e de suporte emocional pode contribuir para sentimentos de desesperança e solidão, aumentando o risco de comportamento suicida”, informa a profissional.

Problemas financeiros e sociais

Dificuldades financeiras, desemprego, conflitos familiares, términos de relacionamentos e outros problemas sociais também podem ser gatilhos para sentimentos de desesperança e angústia. Portanto, eles aumentam o risco de comportamento suicida, analisa a médica

Doenças crônicas ou debilitantes

Pessoas que lidam com doenças físicas crônicas ou incapacitantes podem enfrentar desafios emocionais significativos. “A dor, o sofrimento constante e a perda de qualidade de vida podem contribuir para pensamentos suicidas”, afirma Julia.

É possível prevenir o suicídio?

Conforme a psiquiatra, é fundamental que as pessoas que enfrentam esses desafios recebam apoio adequado. “Identificar e tratar transtornos mentais, fornecer suporte social e emocional, e buscar ajuda profissional são passos importantes na prevenção do comportamento suicida”, afirma.

De acordo com a psicóloca clinica Tatiane Paula, a prevenção do suicídio exige uma abordagem coletiva, abrangendo a conscientização sobre saúde mental, apoio emocional a familiares e amigos, busca por ajuda profissional, criação de espaços seguros para discussões e restrição ao acesso a meios letais. 

“Essas medidas incluem oferecer suporte a quem enfrenta dificuldades, educar sobre sinais de alerta e fatores de risco, e encorajar diálogos abertos para combater o estigma. Além disso, é fundamental capacitar profissionais de saúde e influenciadores comunitários para identificar sinais e intervir quando necessário. Fortalecer laços sociais e assegurar acompanhamento pós-tratamento também são essenciais para garantir a segurança e o bem-estar contínuos”, relata.

Sinais de alerta

Conforme a profissional, é crucial reconhecer os sinais de alerta que podem indicar um risco iminente. Ela cita, por exemplo:

  • Mudanças repentinas no comportamento;
  • Isolamento social;
  • Expressões de desesperança;
  • Aumento no consumo de álcool e drogas;
  • Perda de interesse nas responsabilidades;
  • Aquisição de meios letais. 

“É importante iniciar conversas empáticas, nunca deixar a pessoa sozinha em momentos críticos e incentivar a busca por ajuda profissional. Formar uma rede de apoio com amigos, familiares e profissionais de saúde é fundamental para oferecer assistência contínua e eficaz durante todo o processo de recuperação”, completa.

O suicídio deve deixar de ser um tabu

Além disso, desmistificar concepções equivocadas sobre suicídio é fundamental para promover uma compreensão do tema. “É muito importante enfrentar mitos com educação e sensibilização. Ao compartilhar informações corretas e incentivar o diálogo, é possível contrapor equívocos, como a crença de que falar sobre suicídio encoraja a ação”, afirma Tatiane. 

Segundo ela, é essencial reconhecer que expressar pensamentos suicidas é um pedido de ajuda, e que sobreviver a tentativas é um indício de sofrimento profundo. “A desmistificação contribui para remover o estigma, tornando mais acessível o apoio emocional e profissional, crucial para prevenir o suicídio e promover a saúde mental”, diz a psicóloga.

Onde buscar ajuda

Existe uma gama de serviços que oferecem suporte emocional em diversas regiões. Entre eles, a especialista destaca as linhas de prevenção ao suicídio, que oferecem ouvidos atentos e orientação, como o CVV (Centro de Valorização da Vida). Para entrar em contato com um voluntário, basta ligar para 188.

Além disso, atendimentos psicológicos e psiquiátricos fornecem tratamentos personalizados, enquanto clínicas de saúde mental oferecem aconselhamento e terapia. Grupos de apoio proporcionam um espaço de conexão e compreensão mútua, enquanto programas de intervenção treinam indivíduos a reconhecer e agir diante dos sinais de alerta. 

Em situações críticas, a importância de recorrer a serviços de emergência permanece fundamental. “Em um mundo onde cuidar da saúde mental se torna cada vez mais essencial, esses recursos oferecem um apoio vital para aqueles que enfrentam desafios emocionais e pensamentos suicidas”, destaca a psicóloga. 

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