Na última quarta-feira (7), durante as comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil, o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, de 67 anos de idade, discursou em Brasília. Durante o pronunciamento, o também candidato à presidência entoou gritos de “imbrochável”, dando a entender que ele não sofre de disfunção erétil.
No entanto, estudos apontam que cerca de 70% dos homens nessa faixa etária não possuem a mesma sorte de Bolsonaro. Uma pesquisa realizada nos EUA e denominada de Estudo de Envelhecimento Masculino de Massachusetts, apontou que apenas 33% dos homens não possuem problemas de ereção após os 70 anos de idade. Sendo que, a partir dos 40 anos, esse número já entra na casa dos 60%.
Já um outro levantamento sobre disfunção erétil, publicado pelo Jornal Turco de Urologia, aponta dados ainda mais preocupantes. De acordo com os pesquisadores, mais de 80% dos entrevistados acima de 70 anos de idade relataram problemas de ereção moderados e graves.
Entenda o que é a disfunção erétil
Segundo o Dr. Juan Pablo Suarez, médico urologista formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a disfunção erétil é uma condição definida pela dificuldade constante em manter ou conseguir uma ereção peniana satisfatória e suficiente para a penetração sexual. Ou seja, o problema costuma alterar negativamente os relacionamentos interpessoais, interferindo diretamente na qualidade de vida das pessoas.
Os casos de impotência sexual podem ocorrer por inúmeros fatores físicos e mentais. “A ereção peniana é um fenômeno fundamentalmente vascular que se processa no interior dos corpos cavernosos e ocorre na dependência da integridade anatômica e funcional destes, sofrendo modulação neurológica, hormonal e psíquica. A anamnese é fundamental na identificação de fatores psicogênicos na etiologia da disfunção erétil”, explica o especialista.
Principais causas
Fatores psicológicos, como ansiedade, depressão, ou simplesmente insegurança, são comuns e podem causar a disfunção erétil. Porém, existem também alguns sinais de que o problema pode ter origem traumática, neurológica ou hormonal. De acordo com o médico, também vale a pena ficar atento caso ocorra uma redução ou ausência de ereções matinais e/ou involuntárias – independentes do estímulo sexual.
No entanto, grande parte dos problemas relacionados à impotência sexual é atrelada a fatores mentais e emocionais. “Orientar o paciente com disfunção erétil psicogênica ocasionada por preocupações com padrões de normalidade sexual, desconhecimento ou falta de informação sexual, insegurança e falhas ocasionais ou circunstanciais (ansiedade de desempenho) é fundamental. Nesses casos, é necessário ouvir a queixa do paciente, entendê-la e responder adequadamente às questões levantadas”, explica o Dr. Suarez.
Diferentes origens
De acordo com o médico, a disfunção erétil possui, basicamente, causas hormonais, vasculares, neurogênicas e medicamentosas. Confira:
Hormonal
De acordo com o Dr. Suarez, corresponde a aproximadamente 5% dos casos. “A testosterona está mais relacionada à libido que a ereção e, portanto, a baixa desse hormônio nem sempre é causa de disfunção erétil”, conta.
Vascular
“Toda patologia que resulta em diminuição do fluxo arterial, como arteriosclerose, por exemplo, pode prejudicar a ereção”. O problema vascular ainda pode ser fruto de traumas ou anomalias na região peniana.
Neurogênica
Estímulos do sistema nervoso também podem causar impotência sexual. “A integridade do sistema nervoso parassimpático, principalmente das raízes S2-S4 e do nervo cavernoso, é fundamental para a ereção. A neuropatia diabética é a causa mais comum de disfunção erétil neurogênica. Ocorre em mais de 50% dos pacientes com mais de 6 anos de doença e relaciona-se diretamente com o controle glicêmico”, revela.
Medicamentosa
Por fim, também é importante ficar atento ao uso de algumas substâncias sem acompanhamento médico. “Inúmeros medicamentos relacionam-se com a incapacidade de obter ou manter a ereção. Os mais comuns são os psicofármacos (ansiolíticos, antidepressivos e antipsicóticos), os anti-hipertensivos, os diuréticos e os antiandrogênios”, conta o Dr. Suarez.
Retirar a próstata pode causar impotência
“Sim. A retirada da próstata pode causar disfunção erétil devido à lesão dos feixes nervosos nesta região, responsáveis pela ereção. O nervo pudendo pode ser lesionado durante a realização de uma prostatectomia para neoplasia de próstata, por exemplo. A cirurgia robótica vem com propósito de reduzir este tipo de lesão, visto que possibilita melhor visualização das estruturas a serem dissecadas. Porém, o benefício de retirar a próstata se sobrepõe a pensar na atividade sexual, quando falamos de câncer, por isso realizamos este tipo de cirurgia”, conta o médico.
Existe alguma maneira de prevenir a disfunção erétil
“A melhor maneira de prevenção deste problema relacionado à sexualidade é sem dúvida prevenindo doenças cardiovasculares, controlando a hipertensão arterial, reduzindo o colesterol com alimentação balanceada e praticando atividade física regular. Indivíduos não fumantes possuem, sem dúvida, uma atividade sexual mais longa durante a vida. Trabalhar com baixos níveis de estresse e um bom relacionamento com a parceira também influenciam de forma positiva”, explica o especialista.
Substâncias, remédios caseiros e tratamentos
Após identificar a causa do problema, é hora de procurar ajuda e orientação médica para elaborar a melhor estratégia de solução. Porém, de acordo com o Dr. Suarez, existem outras maneiras de resolver casos mais simples. O uso de suplementos alimentares a base de citrulina, por exemplo, pode melhorar a ação vasodilatadora do organismo e facilitar as ereções.
Uma alternativa é apostar em alimentos naturais e remédios caseiros, como chá de alecrim, mel, guaraná e ginseng. O médico ressalta, porém, que, por falta de estudos aprofundados, não existem comprovações científicas de que esses métodos são realmente eficazes para o tratamento. Mas, como são ingredientes naturais e sem contraindicações, vale a pena a tentativa. “Maca peruana e tribulus terrestres são também utilizadas no tratamento desta patologia, com o princípio de servirem como substrato para produção hormonal”, diz.
No entanto, o tratamento psicológico com terapias e análises costuma ser um dos mais eficientes contra a disfunção erétil. Muitas vezes, alguns medicamentos também podem resolver o problema. “Iniciamos geralmente com o controle das doenças de base como da hipertensão arterial, doenças vasculares e diabetes mellitus. Avaliação nutricional concomitante com controle dietético, no intuito de reduzir o colesterol e triglicerídeos irão auxiliar. A prescrição medicamentosa é o início, com uso de comprimidos diários ou de uso sob demanda. A psicoterapia voltada para sexualidade é realizada por alguns profissionais da psicologia e pode ser um instrumento importante na solução da disfunção erétil psicogênica”, conta o Dr. Suarez.
Intervenção médica pode resolver disfunção erétil
Porém, caso nenhuma dessas opções surta efeito, ainda existem as próteses penianas. “Quando não temos o objetivo alcançado com as opções anteriores, lançamos mão do implante de próteses penianas, que atualmente podem ser semirrígidas ou infláveis”, finaliza o médico.
“No Brasil, a opção inflável tem um custo muito elevado, que se aproxima dos US$ 20 mil, diferente da que acaba de chegar por aqui e que é uma inovação em próteses maleáveis. Essa prótese custa entre R$ 7 mil e R$ 10 mil e tem cobertura dos planos de saúde”, completa o urologista Dr. Carlos Bautzer.
Fontes: Dr. Juan Pablo Suarez, médico urologista do Grupo Conexa e Dr. Carlos Bautzer, urologista do Hospital Sírio-Libanês.