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Sal de cozinha pode causar doenças crônicas? Veja o que diz a ciência

Estudo mostrou que o hábito frequente de adicionar sal aos alimentos à mesa pode representar um risco 28% maior de morte prematura

Estudo: sal extra no prato aumenta em 28% risco de morte prematura
Estudo: sal extra no prato aumenta em 28% risco de morte prematura - Foto: Shutterstock

Você tempera a comida durante o preparo, mas durante a refeição tem o hábito de adicionar mais umas pitadas de sal no prato. Isso pode parecer inofensivo, mas aumenta em até 28% as chances de morte prematura. É o que mostra um estudo feito com mais de 500 mil pessoas, publicado no European Heart Journal.

“Na população geral, cerca de três em cada cem pessoas com idade entre 40 e 69 anos morrem de forma prematura. O risco visto no estudo sugere que mais uma pessoa em cada cem pode morrer precocemente nessa faixa etária”, explica a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada, especialista em Medicina Intensiva, pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, e em Clínica Médica/Medicina Interna.

Isso porque o sal é a principal causa da pressão alta, já que ele causa o estreitamento das arteríolas. A hipertensão de longa data lesa os rins e seus diversos vasos, ou seja, ocorrem lesões de órgãos-alvo, como acontece no coração e no cérebro. Além disso, o sal promove retenção de líquidos no organismo. “Dados recentes mostram que o sódio também modula o funcionamento de células imunológicas, apoiando a teoria do aumento inflamatório no organismo”, acrescenta a especialista.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o consumo de sal não ultrapasse 5 gramas por dia – ou 2 gramas de sódio. No entanto, o brasileiro ingere quase o dobro disso: em média 9,34 gramas, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “O consumo excessivo é um perigo para a saúde, pois o sal está relacionado ao aumento do risco de doenças crônicas e silenciosas. São exemplos a hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, renais, entre outras, que podem evoluir com risco aumentado de morte precoce”, explica a Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

O estudo

O levantamento encontrou uma expectativa de vida menor entre as pessoas que sempre adicionaram sal em comparação com aquelas que nunca ou raramente adicionam sal na comida já pronta. “Aos 50 anos, 1,5 anos e 2,28 anos foram derrubados da expectativa de vida de mulheres e homens, respectivamente”, conta a Dra. Caroline.

Segundo o estudo, adicionar sal aos alimentos à mesa é um comportamento alimentar comum. Ele está diretamente relacionado à preferência de longo prazo de um indivíduo por alimentos com sabor salgado e ingestão habitual de sal. “Na dieta ocidental, a adição de sal à mesa representa 6-20% da ingestão total de sódio. Isso fornece uma maneira única de avaliar a associação entre a ingestão habitual de sódio e o risco de morte”, diz o trabalho. 

Os pesquisadores analisaram dados de 501.379 pessoas que participaram do estudo do UK Biobank. Ao ingressar no estudo entre 2006 e 2010, os participantes foram questionados, por meio de um questionário com tela sensível ao toque, se adicionavam sal aos alimentos (i) nunca/raramente, (ii) às vezes, (iii) geralmente, (iv) sempre, ou (v) preferem não responder. Aqueles que preferiram não responder não foram incluídos na análise. 

A equipe de cientistas ajustou suas análises para levar em conta fatores que podem afetar os resultados. Como, por exemplo, idade, sexo, raça, privação de sono, índice de massa corporal (IMC), tabagismo, ingestão de álcool, atividade física, dieta e condições médicas como diabetes, câncer e doenças do coração e dos vasos sanguíneos. Eles acompanharam os participantes por uma média de nove anos. A morte prematura foi definida como morte antes dos 75 anos.

Além de descobrir os impactos na expectativa de vida, os pesquisadores descobriram que esses riscos reduziram ligeiramente em pessoas que consumiam as maiores quantidades de frutas e vegetais. No entanto, esses resultados não foram estatisticamente significativos. “Frutas e vegetais são as principais fontes de potássio, que têm efeitos protetores e estão associados a um menor risco de morte prematura”, explica a Dra. Caroline.

Como reduzir o consumo de sal

“Avaliar a ingestão geral de sódio é notoriamente difícil, pois muitos alimentos, principalmente alimentos pré-preparados e processados, têm altos níveis de sal adicionados antes mesmo de chegarem à mesa. Então todo sal que é colocado a mais nos pratos já prontos tornam-se excessivos com risco de seu consumo crônico lesar alguns órgãos”, explica a Dra. Caroline.

Ela argumenta que, além de diminuir o sal extra adicionado após as preparações, o ideal é preparar as próprias refeições, pois assim dá para diminuir a quantidade de sódio. “Nunca conseguiremos ter controle da quantidade de sal adicionado em uma refeição comprada em restaurante, fast-foods e delivery. Em casa, na preparação, uma dica é preferir temperos naturais para dar sabor à comida, como, por exemplo, alho, cebola, salsinha, cebolinha, coentro, limão ou outros de sua preferência”, destaca. 
“Devemos evitar também todos os alimentos que são altamente processados e ricos em sódio. Da mesma forma, devemos adequar o paladar doce para reduzir os excessos de açúcar, o acréscimo de especiarias e temperos proporcionará sabor, sem excessos de sal. Temos ciência de que estratégias de redução de sal no nível social reduzirão os níveis médios de pressão arterial da população, resultando em menos pessoas desenvolvendo hipertensão e suas consequências, lembrando que a pressão alta é a primeira principal causa de insuficiência renal”, finaliza a médica.

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